Sem acordo sobre financiamento e sistema eleitoral, Plenário não vota reforma política
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Ao longo das mais de seis horas de sessão, deputados tentaram vários acordos, mas não superaram o impasse. Foto: Luis Macedo / Câmara dos Deputados |
Terminou sem decisão a sessão desta quarta-feira (13/09) do
Plenário da Câmara dos Deputados que discutiu a proposta de emenda à
Constituição que altera o sistema de eleição de deputados e vereadores e cria
um fundo público para custear as campanhas eleitorais (PEC 77/03). Esse
adiamento compromete o calendário para a votação de mudanças eleitorais que
possam ser aplicadas em 2018, já que as novas regras precisam estar em vigor um
ano antes do pleito.
Além dessa proposta, a Câmara discute normas para coligações
(PEC 282/16) e um anteprojeto de lei sobre eleições e partidos, aprovado em
comissão especial.
O texto discutido hoje em Plenário por mais de seis horas
colocou em lados opostos partidos médios e pequenos e grandes legendas. A
sessão acabou encerrada no início da madrugada sem quórum.
Partidos médios e pequenos lutaram contra um acordo feito
entre PP, PDT, PMDB, PT e PSDB em torno de emendas aglutinativas para criar uma
espécie de “distritão misto” na eleição de deputados em 2018. Nesse modelo,
venceriam os mais votados, sendo admitido o voto no partido, a ser
redistribuído de acordo com regulamentação futura.
O acordo permitiria ainda a aprovação do financiamento
público de campanhas, com valor a ser definido pela lei orçamentária, uma das
bandeiras defendidas por PDT e PT. No final da noite, no entanto, as emendas
foram retiradas de pauta diante da perspectiva de derrota.
Líderes dos maiores partidos chegaram a dizer que não se
tratava da reforma ideal, mas da mudança possível. “Em todas as eleições, a
população reclama que vota em um candidato e elege outro. Não é a reforma que
todo partido deseja, porém estamos propondo o que é mais fácil para o eleitor”,
disse o líder do PP, deputado Arthur Lira (AL).
PT e PDT defenderam o financiamento público, mesmo sendo
contrários ao "distritão". “Dentro do nosso partido, sempre fomos
contra o ‘distritão’, mas dissemos que, em prol de construirmos uma unidade,
podemos, sim, fazer um acordo”, declarou o líder do PDT, Weverton Rocha (MA).
Críticas
PHS, PCdoB, Psol, PR, PRB e PPS foram alguns dos partidos
que condenaram as emendas. O deputado Diego Garcia (PHS-PR) explicou que as
menores legendas seriam prejudicadas: “A mudança beneficia o PT, o PSDB, o
PMDB. Ela vem com uma razão muito clara de fazer com que tudo se concentre em
apenas três, quatro, ou cinco agremiações.”
A líder do PCdoB, Alice Portugal, denunciou que houve quebra
do acordo feito na semana passada para votação da proposta sobre coligações e
cláusula de desempenho (PEC 282/16). “Surgem as invencionices, um ‘distritão’
com legenda para privilegiar um ou dois partidos. O que as legendas médias e
pequenas ganham com isso?”, indagou.
Reviravolta
Diante da perspectiva de derrota, os autores retiraram as
emendas. Assim, o Plenário voltou à votação fatiada da proposta aprovada na comissão
especial, seguindo requerimento aprovado há duas semanas.
O primeiro item a ser discutido foi o sistema eleitoral: a
eleição dos deputados mais votados em 2018, no chamado “distritão”. Nos pleitos
seguintes, a proposta prevê a adoção do sistema distrital misto – metade das
vagas é destinada aos candidatos mais votados nos distritos, e os demais são
eleitos pelos partidos, em lista preordenada.
Mas a votação foi encerrada por falta de quórum depois que
os maiores partidos passaram à obstrução. Apenas 20 deputados votaram a favor
da proposta, que teve 216 votos contrários – esses 244 votos são insuficientes
para definir a votação, que foi encerrada por falta de quórum. A aprovação de
PECs dependem do aval de, no mínimo, 308 deputados, em dois turnos.
A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) criticou a mudança de
posição dos maiores partidos. “Eles tentaram massacrar partidos médios e
pequenos. Quando se viram derrotados, tiraram as emendas porque não conseguiram
um sistema que agradassem ao conjunto e, horas depois, obstruíram”, condenou.
Defensor das emendas, o deputado Celso Pansera (PMDB-RJ)
argumentou que a omissão do Legislativo vai levar o Judiciário a tratar da
reforma política. “A gente tenta uma emenda que estabeleça uma maioria dentro
de um nível de racionalidade para o ano que vem, mas outros a atacam sem
raciocinar e inviabilizam a votação da reforma política. Agora, o Supremo
Tribunal Federal decidirá”, comentou.
Agência Câmara Notícias - Reportagem – Carol Siqueira / Edição
– Marcelo Oliveira
Luis Macedo / Câmara dos Deputados
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